“É câncer de mama.”
Eu lembro do silêncio ensurdecedor que reinou no consultório enquanto essa frase ecoava na minha cabeça e as lágrimas insistiam em cair. Foi assim que eu recebi a notícia que virou minha vida de cabeça pra baixo. Olhei em minha volta e tudo parecia girar. Na minha frente, o médico falava dos próximos passos práticos, enquanto meu namorado segurava minha mão e minha mãe tentava segurar o choro na cadeira ao lado. Lembro de tudo com uma riqueza de detalhes impressionante, detalhes que talvez eu nunca mais esqueça.
Eu recebi o meu diagnóstico aos 29 anos. Eu não esperava por um câncer de mama nessa idade. Eu era saudável, não tinha sintomas. Como podia ser real? Lembro de me perguntar instantaneamente se aquele seria meu momento de morrer. Se assim acabaria minha jornada por aqui. Isso é o pior do câncer. ele machuca a alma porque tira nossas certezas. Ele te faz lembrar que você não tem controle sobre tudo. Na verdade, você não tem controle sobre quase nada. Chorei, me deixei sentir a tristeza, o medo e toda a revolta que só um diagnóstico desses pode trazer. No dia seguinte, me levantei pronta para brigar de volta. Se era uma guerra, eu estava pronta para vencê-la. Só existia espaço para um de nós dois nesse mundo e, sinto muito câncer, mas tinha que ser eu.
Desde então foram dezesseis sessões de quimioterapia, incontáveis hemogramas, muitas noites de ansiedade, uma internação e ainda falta muito.Falta muito, mas falta menos. E cada passo que eu dou é uma vitória comemorada como final de campeonato. Tais vitórias também se devem ao fato de que o meu diagnóstico foi rápido e eficaz. Então acho que chegou a hora de eu contar como eu cheguei até aquele consultório: um dia, tomando banho, notei um hematoma no meu seio esquerdo. Isso me levou a me tocar, na tentativa de checar se tinha algo diferente ali. Senti uma parte enrijecida e um nódulo na axila. Resolvi esperar um dia, mas não melhorou. Um dia era tudo que eu precisava, entrei em contato com meu médico. Uma semana depois, eu estava sentada naquela cadeira, ouvindo aquela frase. Na semana seguinte, eu começaria a me tratar. A rapidez nesse processo foi determinante pro sucesso do meu tratamento, que ainda não acabou.
Na minha jornada com o câncer, aprendi a olhar para os medicamentos que me salvam com gratidão, aprendi a olhar pro meu corpo e ver força, aprendi a valorizar coisas que já não tinham a mesma relevância pra mim e descobri, do jeito mais difícil, que eu amo minha vida e quero brigar por ela. No fim, sinto que peguei o limão mais azedo que a vida me deu e fiz uma caipirinha, mesmo sendo daquelas que ardem, difíceis de engolir e que deixam uma ressaca danada. Se eu pudesse te dar um conselho, eu diria: faça o autoexame e exames preventivos. Autoexame também é autoconhecimento, é conhecer o seu próprio corpo, que é sua casa. Como você pode notar uma diferença se não conhece o que está ali? Se toque, se conheça, e caso você note qualquer diferença, consulte seu médico. Exames preventivos ajudam no diagnóstico precoce, e o diagnóstico precoce salva vidas. Salvou a minha.